Castro Soromenho: Um filho de Angola

By Eden

Fernando Monteiro de Castro Soromenho foi um escritor e jornalista angolano-português, nascido em 1910 na cidade de Chinde, Moçambique, e falecido em 1968 no Brasil. Ele é considerado um dos pioneiros da literatura moderna em Angola e um dos primeiros autores a retratar a realidade social e cultural do país sob o colonialismo português.

Entre suas obras mais conhecidas estão “Terra Morta” (1949) e “Viragem” (1957), que abordam temas como a exploração colonial, as tradições africanas e a luta pela identidade cultural. Soromenho também foi um ativista político, envolvido em movimentos anticoloniais, o que o levou ao exílio no Brasil, onde continuou sua produção literária e intelectual.

Sua escrita é marcada por uma forte crítica social e um profundo interesse pela cultura e história dos povos africanos, tornando-o uma figura importante na literatura lusófona e no contexto das lutas pela independência de Angola.

Livro Terra Morta 1949

Terra Morta é um romance de Castro Soromenho que retrata as consequências da colonização portuguesa em Angola. O livro foi proibido pelo regime na sua primeira edição.

Castro Soromenho pode ser considerado um nacionalista angolano no sentido de que sua obra e sua atuação intelectual refletiam uma forte identificação com Angola e uma crítica contundente ao colonialismo português.

Embora ele tenha nascido em Moçambique e tivesse ascendência portuguesa, Soromenho dedicou grande parte de sua vida e obra a retratar e defender a cultura, a história e os direitos dos povos angolanos, posicionando-se contra a opressão colonial.

Sua literatura, como em Terra Morta e Viragem, aborda temas como a exploração colonial, a resistência cultural e a luta pela identidade angolana, o que o coloca ao lado de outros intelectuais e escritores que contribuíram para o surgimento de uma consciência nacionalista em Angola. Além disso, Soromenho foi um ativista político envolvido em movimentos anticoloniais, o que o levou ao exílio no Brasil, onde continuou a defender a causa angolana.

No entanto, é importante contextualizar que o nacionalismo angolano, como movimento político organizado, ganhou maior força nas décadas de 1950 e 1960, com o surgimento de grupos como o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Soromenho, que faleceu em 1968, não chegou a ver a independência de Angola (1975), mas sua obra e seu pensamento foram influentes para a formação de uma identidade nacional angolana e para a luta contra o colonialismo. Portanto, ele pode ser visto como um precursor do nacionalismo angolano no campo cultural e intelectual.

Colonialismo Português.

Portugal, durante o período colonial, especialmente sob o regime do Estado Novo (1933-1974), liderado por António Salazar, via com desconfiança e hostilidade figuras como Castro Soromenho. Isso porque ele, assim como outros intelectuais e ativistas anticoloniais, desafiava diretamente a ideologia do regime, que defendia a superioridade da “missão civilizadora” portuguesa nas colônias e a suposta harmonia do império colonial.

1. Repressão e censura

  • O regime salazarista era conhecido por sua rigidez e controle sobre a liberdade de expressão. Autores como Soromenho, que criticavam o colonialismo e denunciavam as injustiças sociais e a exploração nas colônias, eram alvos de censura. Suas obras eram frequentemente proibidas em Portugal e nas colônias, limitando sua circulação e impacto.
  • A PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), a polícia política do regime, monitorava e perseguia intelectuais, escritores e ativistas considerados subversivos. Soromenho, por sua postura crítica, certamente estava sob vigilância.

2. Exílio e isolamento

  • Devido à pressão política e ao clima de repressão, muitos intelectuais e ativistas anticoloniais, incluindo Soromenho, foram forçados ao exílio. Ele viveu parte de sua vida no Brasil, onde continuou a escrever e a denunciar as mazelas do colonialismo português.
  • O exílio era uma forma comum de silenciar vozes dissidentes, isolando-as do contexto português e africano, embora muitos exilados continuassem a influenciar os movimentos de libertação a partir do exterior.

3. Desprezo e marginalização

  • O regime colonial português tendia a marginalizar e desvalorizar as vozes que questionavam sua narrativa oficial. Intelectuais como Soromenho, que defendiam a cultura e a identidade angolana, eram vistos como “traidores” ou “agitadores” que ameaçavam a unidade do império.
  • Apesar disso, Soromenho e outros escritores anticoloniais conseguiram construir uma base intelectual e cultural que mais tarde influenciou os movimentos de independência em Angola e em outras colônias portuguesas.

4. Reconhecimento tardio

  • Após a Revolução dos Cravos (1974), que pôs fim ao regime salazarista e abriu caminho para a descolonização, figuras como Castro Soromenho começaram a ser reavaliadas e reconhecidas por sua contribuição à literatura e à luta pela liberdade em Angola. No entanto, durante o período colonial, ele e outros como ele foram sistematicamente silenciados e perseguidos.

Em resumo, Portugal, sob o regime do Estado Novo, tratava pessoas como Castro Soromenho com repressão, censura e marginalização, buscando neutralizar sua influência e manter o controle sobre as narrativas coloniais. No entanto, seu legado sobreviveu e tornou-se uma parte importante da história cultural e política de Angola.


Características da literatura de Castro Soromenho

A literatura de Castro Soromenho é um marco importante na literatura africana de língua portuguesa, especialmente no contexto angolano. Sua obra é caracterizada por uma profunda crítica ao colonialismo português, uma valorização das culturas e tradições africanas, e uma abordagem realista das condições sociais e políticas de Angola durante o período colonial. Abaixo estão alguns aspectos centrais de sua literatura e suas principais obras:

  1. Denúncia do colonialismo:
  • Soromenho expõe as injustiças e a exploração do sistema colonial português, destacando a opressão sofrida pelos povos africanos. Suas obras mostram a violência física, cultural e psicológica imposta pelos colonizadores.
  • Ele critica a ideologia colonial que justificava a dominação com base na suposta “missão civilizadora” europeia.
  1. Valorização da cultura africana:
  • Sua narrativa dá voz às tradições, mitos e histórias dos povos angolanos, especialmente dos grupos étnicos do interior de Angola. Ele busca resgatar e preservar a identidade cultural africana, muitas vezes marginalizada pelo colonialismo.
  1. Realismo social:
  • Soromenho adota um estilo realista, descrevendo de forma vívida as condições de vida das populações colonizadas, a pobreza, a exploração do trabalho e a degradação social causada pelo colonialismo.
  1. Temas recorrentes:
  • A luta pela identidade cultural.
  • O conflito entre tradições africanas e a imposição colonial.
  • A exploração econômica e a violência do sistema colonial.
  • A resistência silenciosa dos povos africanos.

Principais obras

  1. “Terra Morta” (1949):
  • Considerada uma de suas obras mais importantes, “Terra Morta” retrata a vida em uma plantation colonial, mostrando a exploração dos trabalhadores africanos e a degradação humana causada pelo sistema colonial.
  • O romance aborda temas como a perda de identidade cultural e a desestruturação das comunidades tradicionais.
  1. “Viragem” (1957):
  • Este romance explora o choque entre a cultura tradicional africana e a modernidade imposta pelo colonialismo. A história se passa em um contexto de mudanças sociais e políticas, refletindo a luta pela preservação da identidade angolana.
  1. “Histórias da Terra Negra” (1960):
  • Uma coletânea de contos que retrata a vida e as tradições dos povos africanos, com um forte enfoque na resistência cultural e na crítica ao colonialismo.
  1. “Calenga” (1945):
  • Um romance que aborda a vida nas zonas rurais de Angola, destacando as tradições locais e os impactos da colonização nas comunidades africanas.
  1. “Homens sem Caminho” (1941):
  • Esta obra reflete sobre o desenraizamento e a alienação causados pelo colonialismo, mostrando como os africanos eram privados de suas terras, culturas e identidades.

Legado de Castro Soromenho

Castro Soromenho é considerado um dos precursores da literatura moderna angolana e um dos primeiros escritores a retratar a realidade angolana sob uma perspectiva crítica e anticolonial. Sua obra influenciou gerações posteriores de escritores angolanos, como Pepetela e Luandino Vieira, que continuaram a explorar temas como a identidade cultural, a resistência e a luta pela independência.

Além disso, Soromenho contribuiu para a formação de uma consciência nacional angolana, ajudando a construir as bases culturais e literárias que sustentaram os movimentos de libertação. Sua literatura permanece relevante como um testemunho histórico e artístico das lutas e aspirações do povo angolano.


1. Reconhecimento literário e acadêmico

  • Inclusão em antologias e estudos literários: A obra de Soromenho é frequentemente estudada em universidades e incluída em antologias da literatura africana de língua portuguesa. Ele é reconhecido como um dos fundadores da moderna prosa angolana.
  • Dissertações e teses: Sua vida e obra têm sido tema de pesquisas acadêmicas, tanto em Angola quanto em outros países, destacando sua contribuição para a literatura e a cultura angolana.

2. Nomeação de instituições e espaços públicos

  • Escolas e bibliotecas: Em Angola, algumas escolas e bibliotecas receberam o nome de Castro Soromenho em sua homenagem, promovendo o acesso à sua obra e perpetuando seu legado.
  • Ruas e praças: Em cidades angolanas, como Luanda, há ruas ou praças que levam seu nome, simbolizando seu lugar na história cultural do país.

3. Eventos culturais e literários

  • Prêmios literários: Embora não tenha recebido prêmios em vida, seu nome é frequentemente associado a premiações e eventos literários que celebram a literatura angolana e africana.
  • Mesas-redondas e conferências: Em eventos culturais e acadêmicos, Soromenho é frequentemente lembrado como uma figura central na formação da literatura angolana e na crítica ao colonialismo.

4. Reconhecimento no Brasil

  • Durante seu exílio no Brasil, Soromenho foi acolhido por intelectuais e artistas que reconheciam o valor de sua obra. Após sua morte, sua contribuição para a literatura e a luta anticolonial continuou a ser celebrada no Brasil, especialmente em círculos acadêmicos e entre estudiosos da literatura africana.

5. Publicações póstumas e reedições

  • Reedições de suas obras: Após a independência de Angola (1975), muitas das obras de Soromenho foram reeditadas, tornando-se mais acessíveis ao público angolano e internacional. Isso ajudou a consolidar seu lugar como um dos grandes nomes da literatura angolana.
  • Coletâneas e estudos críticos: Foram publicados livros e artigos que analisam sua obra e seu papel na história literária e política de Angola.

6. Homenagens no contexto da independência de Angola

  • Com a independência de Angola em 1975, Soromenho foi reconhecido como uma figura importante na luta pela libertação cultural e política do país. Sua obra passou a ser vista como um símbolo da resistência ao colonialismo e da afirmação da identidade angolana.

7. Menções em discursos e documentos

  • Intelectuais, políticos e escritores angolanos frequentemente mencionam Soromenho como uma figura inspiradora na construção da nação angolana. Sua obra é citada como um exemplo de engajamento literário e político.

Conclusão

Castro Soromenho, que durante sua vida enfrentou a censura e o exílio, é hoje celebrado como um dos pilares da literatura angolana e um defensor da cultura e da identidade africana. Suas homenagens refletem não apenas o valor literário de sua obra, mas também seu papel na luta pela liberdade e justiça em Angola. Seu legado continua vivo, inspirando novas gerações de escritores e leitores.

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