No arquipélago de Cabo-Verde, onde o vento sopra histórias de resistência e o mar canta melodias de esperança, nasceu uma voz que transcende fronteiras e toca a alma de quem a escuta. Lura, nome artístico de Maria de Lurdes Assunção Pina, é mais do que uma cantora; ela é a personificação da riqueza cultural de um povo, a guardiã de tradições e a mensageira de emoções que ecoam além do tempo e do espaço.
Nascida em Lisboa, em 1975, Lura cresceu entre duas culturas: a cabo-verdiana, herdada de seus pais, e a portuguesa, do país que a viu nascer. Essa dualidade moldou sua identidade artística, permitindo-lhe criar uma ponte entre o passado e o presente, entre a África e o mundo. Sua música é um reflexo dessa jornada, uma fusão de batidas contemporâneas com os ritmos ancestrais de Cabo-Verde, como o Funaná, a Morna e o Batuque.

Lura não canta apenas com a voz; ela canta com o corpo, com a alma, com toda a força de suas raízes. Cada nota que emite é carregada de emoção, cada palavra que pronuncia é um convite para mergulhar na história de um povo que soube transformar dor em beleza. Suas letras falam de amor, de saudade, de resistência e de celebração. Ela canta para as mulheres fortes que carregam água nas canecas, para os homens que labutam nos campos, para as crianças que brincam sob o sol escaldante. Ela canta para a vida.




Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi o lançamento do álbum “Di Korpu Ku Alma“ (2004), que significa “Do Corpo com a Alma“. Nele, Lura apresenta uma coleção de canções que celebram a identidade cabo-verdiana, com arranjos modernos que respeitam as tradições. Músicas como “Nha Vida” e “Vazulina” tornaram-se hinos, não apenas para os cabo-verdianos, mas para todos aqueles que se identificam com a universalidade de suas mensagens.
Lura é uma artista que não tem medo de se reinventar. Em “Eclipse“ (2015), ela explorou novas sonoridades, mantendo sempre viva a essência de suas raízes. Esse álbum é um testemunho de sua maturidade artística, uma prova de que ela continua a evoluir, sem nunca perder de vista o que a faz única.
Mas Lura não é apenas uma grande cantora; ela é também uma embaixadora da cultura cabo-verdiana. Através de sua música, ela levou o nome de Cabo-Verde aos quatro cantos do mundo, mostrando que um pequeno arquipélago no Atlântico pode ser uma fonte inesgotável de inspiração. Ela é a prova viva de que a arte pode unir povos, derrubar barreiras e curar feridas.
Hoje, ao ouvir Lura, somos transportados para as praias de areia dourada de Cabo-Verde, para as ruas coloridas de Mindelo, para as noites estreladas onde o som do batuque ecoa ao longe. Sua voz é um abraço caloroso, um convite para dançar, para sentir, para viver. Ela nos lembra que, mesmo em meio às adversidades, há sempre espaço para a alegria, para a música, para o amor.
Lura é mais do que uma cantora; ela é um símbolo de resistência, de beleza e de esperança. Ela é a voz que nos conecta, que nos faz sentir em casa, não importa onde estejamos. E, enquanto ela continuar a cantar, o coração de Cabo-Verde continuará a bater forte, ecoando em cada um de nós. A trajetória de Lura em Portugal é uma história de talento, perseverança e conexão com suas raízes, que serve de inspiração para quem busca seguir seus sonhos.
O primeiro álbum e a descoberta de sua identidade
Em 1996, Lura lançou seu primeiro álbum, “Nha Vida“, mas foi com “Di Korpu Ku Alma” (2004) que ela realmente se destacou. Esse álbum marcou um momento crucial em sua carreira, pois ela mergulhou de cabeça na música cabo-verdiana, explorando ritmos como a Morna, a Coladeira e o Funaná. A faixa “Nha Vida” (uma regravação de sua música anterior) tornou-se um hino, celebrando suas raízes e sua identidade como mulher cabo-verdiana.
Reconhecimento internacional e momentos marcantes
Lura ganhou projeção internacional ao participar de festivais de música world music e colaborar com grandes nomes da música cabo-verdiana, como Cesária Évora, a “Diva dos Pés Descalços“. Cesária foi uma grande inspiração para Lura, e essa conexão ajudou a solidificar seu lugar no cenário musical lusófono.
Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi o lançamento do álbum “M’bem di Fora” (2006), que recebeu aclamação da crítica e a colocou no mapa global da world music. Músicas como “Ponciana” e “Vazulina” tornaram-se sucessos, mostrando sua capacidade de contar histórias profundas e emocionais através da música.
A conexão com as raízes e a inspiração para outros
Lura sempre manteve um forte vínculo com Cabo-Verde, mesmo vivendo em Portugal. Sua música é uma celebração da cultura cabo-verdiana, mas também uma ponte entre gerações e continentes. Ela inspirou muitos jovens lusófonos a valorizarem suas origens e a verem a diversidade cultural como uma força, não uma barreira.
Superando desafios e inspirando
A trajetória de Lura não foi sem desafios. Como mulher negra em um mercado musical competitivo, ela teve que provar seu valor repetidamente. No entanto, sua autenticidade, dedicação e amor pela música falaram mais alto. Ela mostrou que é possível vencer sem perder suas raízes, e que a música pode ser uma ferramenta poderosa para unir pessoas e culturas.
Legado e inspiração
Hoje, Lura é uma das vozes mais respeitadas da música lusófona. Sua história é um lembrete de que, com paixão, trabalho duro e conexão com suas raízes, é possível alcançar grandes feitos. Ela inspira não apenas pela sua música, mas pela forma como abraçou sua identidade e usou sua arte para celebrar a riqueza cultural de Cabo-Verde e da diáspora africana.
Seu conselho para quem busca seguir seus sonhos? “Mantenha-se fiel a si mesmo, honre suas raízes e nunca desista, porque a jornada pode ser longa, mas cada passo vale a pena.”