Fernanda Torres, Conquers a Gloden Globe With Ainda Estamos Aqui Movie

By Naiara Galarraga Gortázar for El País

Três milhões de espectadores assistiram ao filme, cuja atriz principal Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro enquanto o Brasil marcava o aniversário da tentativa de golpe de 2023

A única atriz entre as indicadas ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático que poderia facilmente andar despercebida pelas ruas de Los Angeles — ou de meio mundo — levou o prêmio para casa no último domingo. A atriz brasileira Fernanda Torres, 59, estrela do filme Ainda Estou Aqui, ganhou a honraria por seu papel na história real de uma mulher cujo marido desapareceu durante a ditadura militar no início dos anos 1970.

Ela triunfou sobre uma poderosa escalação de indicadas: Kate Winslet, Nicole Kidman, Angelina Jolie, Tilda Swinton e Pamela Anderson.

O Brasil comemorou essa vitória histórica: sua primeira vitória na categoria. O filme se tornou um fenômeno cultural no país: atraiu três milhões de espectadores em apenas dois meses. I’m Still Here investiga um trauma passado que ressoa poderosamente no presente seu lançamento coincide com o segundo aniversário do ataque de 6 de janeiro à sede do poder de Brasília e a investigação em andamento sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, um ex-general nostálgico da era da ditadura, por orquestrar a tentativa de golpe.

Ainda Estou Aqui, dirigido pelo aclamado cineasta Walter Salles, estreou no Festival de Cinema de Veneza em 2024, coincidindo com o 60º aniversário do golpe militar realizado sob a bandeira do anticomunismo. Para os brasileiros que suportaram as presidências de generais militares (1964–1985), o filme é uma forma de revisitar um trauma coletivo.

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Para as gerações mais jovens, serve como um convite para confrontar os “anos de chumbo”, um período que Bolsonaro frequentemente minimizou. Após uma exibição em dezembro em um cinema de São Paulo, o público explodiu em aplausos. Um grupo de jovens mulheres, nenhuma das quais estava viva em 1971, quando a história começa, gritou: “Ditadura, nunca mais!” (“Ditadura, nunca mais!”).

O filme começa em 1971, retratando a vida da advogada Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) e seu marido, o deputado Rubens Paiva (Selton Mello), que havia sido afastado do cargo pelos militares. Eles levam uma vida aparentemente idílica com seus cinco filhos em uma bela casa de praia no Rio de Janeiro, como se a ditadura fosse uma realidade distante.

Eunice permanece alheia às atividades políticas clandestinas de seu marido até que suas vidas são violentamente viradas de cabeça para baixo. Um dia, policiais à paisana invadem sua rotina pacífica de passeios na praia, reuniões sociais e alegrias familiares para prender o casal e uma de suas filhas.

Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, um dos filhos do casal, o filme é contado pela perspectiva de Eunice. Rubens Paiva começou a escrevê-lo quando percebeu que tanto sua mãe, que sofria de Alzheimer, quanto Brazil estavam começando a perder a memória.

Filmado em um estilo vintage, o filme evoca a aparência e a sensação das filmagens em Super 8 de sua época. Ele entrelaça a luta da advogada para encontrar seu marido com seus esforços para sustentar sua família, culminando em sua transformação em uma defensora feroz dos direitos das pessoas que desapareceram durante a ditadura e dos povos indígenas. A Variety descreveu o filme como um “retrato profundamente comovente de uma família e uma nação rompida”.

Torres ganhou o Globo de Ouro por sua performance, um sucesso que veio em parte por acaso — ela assumiu o papel de Eunice depois que outra atriz desistiu. Em seu discurso de agradecimento, ela dedicou o prêmio à sua mãe, Fernanda Montenegro, a grande dama da atuação brasileira de 95 anos. A própria Montenegro quase ganhou o mesmo prêmio há 25 anos por sua performance em Central do Brasil, também dirigido por Walter Salles. Esse filme acabou perdendo o prêmio.

Para os brasileiros e para a família Torres-Montenegro, o prêmio por I’m Still Here e Torres é particularmente doce. A reverenciada Fernanda Montenegro retrata a idosa Eunice em um papel breve, mas poderoso, atuando apenas com os olhos. Após a vitória de sua filha, Montenegro refletiu sobre os desafios que os artistas abaixo do equador enfrentam para ganhar reconhecimento internacional no Norte Global.

Político, mas contido

Por coincidência, a vitória de Torres no Globo de Ouro aconteceu no aniversário do ataque ao Capitólio dos EUA e apenas dois dias após o aniversário do ataque a Brasília. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva habilmente usou o filme como peça central do evento em comemoração ao ataque de 8 de janeiro de 2023. “Ainda Estamos Aqui”, declarou o presidente esquerdista com orgulho, defendendo a democracia, o diálogo com dissidentes e a punição dos culpados.

Embora o assunto do filme seja inegavelmente político, ele mantém um tom contido. Como disse o editorialista de O Globo — o braço jornalístico do coprodutor do filme, o Grupo Globo, o filme é “uma história contada de forma não panfletária, que comove e ensina”.

Rubens Paiva disse que a Comissão da Verdade de 2014 foi crucial para reconstruir o capítulo mais sombrio da história de sua família.

País das dinastias

Um reflexo da extensão em que o Brasil continua sendo uma nação de dinastias é encontrado na dupla Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Torres construiu uma carreira que brilha por seus próprios méritos, ganhando reconhecimento profissional sem ser ofuscada pelo talento excepcional de sua mãe, Montenegro.

Menos discutido, no entanto, é o histórico do diretor Walter Salles. Um cineasta celebrado e multipremiado, conhecido por obras como Diários de Motocicleta (2004) e Terra Estrangeira (1995), Salles vem de uma das famílias mais ricas do Brasil. Sua fortuna herdada o colocou entre os cineastas mais ricos do mundo, com negócios familiares abrangendo bancos e mineração. Um de seus irmãos, João Moreira Salles, fundou o Piauí, frequentemente comparado ao nova-iorquino do Brasil, enquanto outro irmão, Pedro, atua como presidente do Banco Itaú.

Embora o Brasil seja vasto e densamente povoado, talvez não seja surpreendente que Salles tenha conhecido a família Paiva durante toda a sua vida. No entanto, as interconexões dos caminhos das pessoas continuam impressionantes. O ex-presidente Jair Bolsonaro cresceu em Eldorado, São Paulo uma cidade onde a família Paiva possuía uma fazenda e terras substanciais, e onde o pai de Rubens Paiva já foi prefeito.

De acordo com Retrato Narrado, um perfil de áudio de Bolsonaro (disponível em espanhol), quando adolescente, Bolsonaro nutria profundo ressentimento e obsessão pela família Paiva. Sua decisão de se juntar ao exército foi influenciada por testemunhar uma operação dramática em Eldorado para capturar um dos guerrilheiros mais procurados da época.

Embora a Comissão da Verdade do Brasil de 2014 tenha identificado os responsáveis ​​pelo assassinato de Rubens Paiva, a justiça nunca foi totalmente feita. Cinco oficiais militares foram acusados, mas os casos permaneceram sem solução. Três dos acusados ​​já morreram, mas os dois restantes, junto com as famílias dos falecidos, continuam recebendo pensões militares. De acordo com o ICL Notícias via Portal da Transparência, essas pensões somam um custo total de cerca de US$ 22.500 por mês para o estado brasileiro uma revelação trazida à tona após o sucesso de I’m Still Here.

Fonte: https://english.elpais.com/culture/2025-01-13/im-still-here-the-brazilian-film-sensation-that-made-history-at-the-golden-globes.html